PENSAMENTOS

segunda-feira, junho 19, 2006

Eugénio...!


Nesta noite de trovoada no início do verão, sinto a nostalgia da poesia. O som das palavras a encaixarem-se nas outras, como a chuva a encaixar-se no chão.
Lembro-me do Eugénio. 'Tu'! O poder do poeta faz-me sentir que é minha a sua poesia; e tão familiar as suas palavras. Tu Eugénio!
Um dia pediram-me que dissesse o que são as palavras, lembrei-me:

Palavras são como um cristal
algumas um punhal,
um incêncio.
Outras,
orvalho apenas. (E.A.)

Eu vi-te pela janela da tua sala. Como te compreendi quando olhei por ela! Quantos poemas terás escrito ao olhar o sol a afogar-se no azul do mar da foz; entre duas palmeiras e um céu luminoso? Ai! Como te entendi, ali no parapeito da tua janela.
Que imagem poética, que vida sofrida, porque um poeta sofre com a beleza do mundo, mesmo sendo um fingidor.
De que cartola roubaste as tuas palavras? Com que varinha ordenaste os poemas? Com que sentimentos pulvilhaste a tua poesia? Só tu Eugénio, com essa magia, com essas palavras que:

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam: barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
tecidas são de luz
e são a noite.
Emesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras? (E.A.)

Como me entendes, Eugénio! Quando leio a sinceridade das tuas palavras sinto o conforto de um lar e o aperto no peito do poeta fingidor.
Como gostava de te ter conhecido! Quando eras gente agoniava-me que te tornasses em alma; agora que és alma, agonia-me que te transformes em esquecimento.
Não digo 'Adeus', Eugénio. Digo 'Até sempre'!
http://www.astormentas.com/andrade.htm