PENSAMENTOS

quinta-feira, dezembro 29, 2011

Vocação

Mães pobres que mascarais vossa dor com as preces a Deus:


Levais pela mão vossas crias ao precipício da escuridão.


Mães pobres que se dedicam ao culto de si,

Ao desespero da frustração:

Ensinais vossos filhos a sofrer na solidão,



Mães pobres sem noção:

Deixastes há muito a consciência do mundo

Abandonastes vossas descendências à decadência dominante.



Mães pobres sem vocação:

Desistais da realidade;

Deixai vossos filhos seguir adiante.



Mães pobres sem coração:

Sois inconscientes na educação

Abandonastes os de vosso ventre â existência

Num desespero sem proporção.



Mães pobres de rios transbordantes:

Afogais vossas criaturas nas demências que a vós acodem

Não sois gente decente

Sois demónios incandescentes.



Mães pobres de emoção:

Baixai vossas guardas

Deixai as inocentes crianças tropeçarem sem as empurrarem;

Deixai-as ver gente

Sem temerem perecer na vossa corrente.

segunda-feira, setembro 05, 2011

SOPROS DE VENTO


A inspiração que surge da nostalgia, bloqueia os desejos de construir futuros embelezados pela certeza de felicidade. As luzes sombrias, que não deixam passar a esperança, estancam os sons de músicas ouvidas na solidão sagaz de quartos, que albergam sonhos de vida cujo cheiro é a cinza; de mortes mal sofridas; lágrimas cárceres nos olhos embaciados por nevoeiro, que ofuscam os caminhos de gente carregada de malas com histórias dentro. Os caminhos continuam, mas as pessoas permanecem presas ao chão pelo peso das malas.
Não há cores nestas vidas que aqui descubro; as cores não conhecem o desespero.

segunda-feira, agosto 22, 2011

Palavras inauditas

Nos vales salgados da tristeza jazem imortais os sonhos longínquos. Pessoas quebradas seguem as sombras que cobrem o horizonte.


Os filhos imberbes sem voz para o grito primeiro da vida, pesam os corações inchados de sangue derramado. Abraços por apertar, palavras por dizer, sorrisos nunca entregues.

Os ócios redutíveis da vida salgaram os montes por caminhar. Iludiram o sol da via, entregaram as cores da vida ao infinito nunca visto.


Almas inconsoláveis vagueiam nas horas nunca dadas, nos custos do tempo vencido.

Nunca nada! Nunca nada!

Os corpos desaparecem no fio da estrada, apenas as palavras embargadas são ouvidas no silêncio dos que ficam. Para sempre nada! Nada!

Nem voz, nem letras. Serão sempre inaudíveis as frases que lhe correm no peito, presas nas cordas orgulhosas no fundo da boca.

Nunca ditas. Nunca ouvidas. Nunca sentidas.

Para sempre um nada. Para sempre um vazio.

A força maior do universo, o sentimento supremo que nasce em todos os homens, morre inesquecível no desconhecimento do mundo. São dores ímpias, formas de vida obscuramente indolor.

Forças robustas impeditivas de amar, de se oferecer. Sentimentos cansados que em horas passadas chamam a loucura, presenteiam-se à solidão, ocultam a mente.

Dois dias de vida. Dois dias de morte. Dois dias em que o «eu» forte se dá à vida enfraquecida.

Ouço as vozes do meu silêncio e desejo sê-las. Desejo ouvi-las imparcialmente. Desejo pegar nelas e magicamente materializá-las, moldá-las. Tornar o meu, no seu mundo.

Desejo apenas ser no momento em que sou. Ouvir quando tenho que ouvir, falar o que diz a voz. Não quero ser aquilo que não sou por imaginar ser mais do que na realidade represento. Desejo existir da forma que sou, sem exigências absurdas ou consequências produzidas.

segunda-feira, janeiro 04, 2010

medo

O medo de ser eu…. O medo de decidir livremente por mim… o medo de ser escolha e não escolher… o medo de viver… o medo de não viver… o medo de me fazer ouvir… o medo de ser descoberto o meu medo… o medo de falar… o medo de me ouvir… o medo de ter voz… o medo de dar… o medo de sentir... sentir o medo de só pensar… o medo de não esquecer... não esqueço!! O medo de ser esquecida… o medo de ser abandonada… o medo de sofrer… o medo de ser feliz… o medo de sonhar… o medo o medo o medo……


sempre o medo……

eu sou o medo

Não esqueço....

Todos os dias….
Todos os dias sinto a nostalgia do passado! Não é o coração que me fere, é a mente que sai confusa e perdida. Vagueio metodicamente em momentos espontâneos que me assolam a memória e por lá fico a fazer matemática dos sentimentos. Perco-me num sorriso, numa palavra, numa brisa… nostalgia, assim lhe chamam!
Choro, encho o peito, movo o pescoço, mas para onde quer que vá, as recordações vão comigo… Não esqueço! Os pensamentos latejam na minha cabeça. Imóvel, meu corpo fixo nesta cadeira, enquanto o mundo continua à minha volta, enquanto a chuva molha a minha gabardine, o vento despenteia o meu cabelo, as pessoas serpenteiam as poças de água e os carros fogem para o seu destino,

eu,

estou longe.
 Penso!
Olho-me, olho-te no passado, projecto-me no futuro, arquitecto sonhos que me frustram por serem só isso….
Sonhos!

E o agora?
E o presente?
E a chuva que devia estar a sacudir da gabardine?
O cabelo que devia estar a segurar?
A poça que devia estar a serpentear?
O carro que devia olhar?

Tudo isso perdi… Perdi porque não esqueço… porque sonho… porque não vivo… nem vivi!


Consultem:
http://pt.wikipedia.org/wiki/United_States_of_Tara
http://pt.wikipedia.org/wiki/Transtorno_dissociativo_de_identidade






sexta-feira, setembro 25, 2009

Só eu conheço!

O teu sorriso puxa o meu!
Quando se rasga e ocupa todo o teu rosto,
quando transforma os teus olhos em ternura,
a tua voz em doçura,
também o meu te copia.
O teu sorriso ocupa o meu dia.
Surge disparado perante mim,
surpreende-me,
sozinha,
a esboçar o meu.
O teu,
sincero, desarma-me!
Retira-me todas as defesas,
invade-me!
Quase que me esqueço que não preciso delas.
O teu sorriso,
o sorriso do teu olhar….
Vou para sempre amar!


Ouvir:
http://www.youtube.com/watch?v=fD66A1_FVb8&feature=fvst

Luta

As palavras… o meu desejo seria destruí-las! Elimina-las! O meu mundo seria mais vivo sem palavras! Elas transformam, obrigam-nos a expressar, a declamar sentimentos. Criam mundos ao serem ditas, transportam-se para a realidade.


As palavras! Só quando despejadas sossegam. Fervilham no nosso interior, dramatizam pensamentos, esmagam-nos com a sua intensidade. São tortura, as palavras! São caprichosas, também! Por vezes trancam-se e não deixam falar o coração. Recusam-se a sair, escondem-se em gestos repetitivos, desesperantes. Como as odeio! Como as amo!

As palavras que tudo dizem, que tudo podem, nada conseguem, nada conquistam se trancadas, se reclusas de pensamentos obsessivos. Guardam-nas dependentes da sua compulsão. Não valem nada quando escondidas! São tudo quando libertas! As palavras são tudo e não valem nada! Luto todos os dias contra elas e por elas!

Consultar:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Transtorno_obsessivo-compulsivo

quarta-feira, setembro 23, 2009

O que foi que aconteceu


O teu cheiro. O cheiro doce do teu amor. Cada poro do meu corpo respirava o teu suave perfume. Um aroma amoroso que arrepiava a minha existência. Fecho os olhos e inspiro profundamente. A tua imagem invade a minha mente, ilude os meus sentidos. Sinto que estás presente, que consigo respirar-te, sinto o teu cheiro a penetrar as minhas narinas, a percorrer de saudade todo o meu corpo. De repente, existes de novo, o teu toque torna-se real, os teus braços envolvem meu corpo miúdo e os nossos corações batem, em reminiscência, ao mesmo ritmo. Um arrepio de prazer e de satisfação quase sufocante, apodera-se de mim. És tão real!

No segundo seguinte abro os olhos; já tu não existes! Resta uma leve brisa que regressa insistentemente - como uma teimosa onda do mar - todos os dias, horas, minutos, segundos. Ocupa os meus sentidos, desperta a minha imaginação e tortura-me de saudade!


Oiçam:
http://www.youtube.com/watch?v=XO9tw-DAArU&feature=PlayList&p=7D416094C2B15890&playnext=1&playnext_from=PL&index=28

Uma viagem


Um dia pelo mundo navegou um sonho: conquistar todos os Homens pela felicidade. O Sonho viajou. Em cada canto em que atracava, permanecia indefinidamente; penetrava todas as noites na mente de um sonhador. O Sonho ganhava fama e merecia respeito.


De porto em porto e de mente em mente conquistou confiança. Porém, passadas muitas viagens e repetições intermináveis dos seus ensinamentos, o Sonho foi mudando. Também o Homem exercia nele alguma influência. Aos poucos já não pretendia conquistar os Homens através da felicidade, mas sim mostrar-lhes a sua própria infelicidade.

O Sonho que outrora navegou o mundo com um desejo simples, tornou-se pesadelo. Retirou-se! Dificilmente sairá da escuridão. Será agora e para sempre um sonho transformado. Nulo!

segunda-feira, setembro 21, 2009

Sons e elementos


Só, silenciosamente só. Vivo apenas com o ruído ensurdecedor dos meus pensamentos e com a dor dos sentimentos a latejar nas minhas veias. São ruídos dolorosos, ninguém os escuta, são só meus. Vivo uma vida ambivalente, por um lado a ânsia demolidora de amar loucamente, sem medos, nem barreiras, a ânsia de viver intensamente o amor. Por outro lado, a exaustão do medo, a incapacidade de uma entrega total, um peso nos ombros de uma história de vida sofrida.


Só, silenciosamente só. O coração bate irregularmente, cada batida é um movimento violento e desesperado para ser arrancado de dentro de mim. Cada bater assemelha-se a um abanão que fustiga o meu corpo de dor e o meu pensamento de sofrimento. Aos poucos, tanto um como outro, serão pedra e o coração, esse, jamais terá poder!


Só, silenciosamente só. Como o vento, a chuva, o sol destroem os mais poderosos fortes contruídos pelo homem, ou os maiores e mais robustos penhascos criados pela natureza, também a vida vai desmantelando o meu ser com as suas trapaças. São peças de um puzzle que se perdem, perderam e outras que se perderão. Restaram os pedaços mais resistentes, mais duros, mas que mais sofreram.


Só, silenciosamente só, abandonada ao ruídos intrangigentes do meu sofrimento.
Oiçam, duas versões diferentes: