PENSAMENTOS

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

Desamparada cai...


Sei a cor da chuva. É escura no Inverno, quando o coração é frio e a solidão atormenta.

É tépida quando é vazia. Repleta de nada que ocupa coisa nenhuma.

É de cor cinzenta quando traz nuvens que se empurram e turbulentas chicoteiam-se.

A chuva é lilás nos dias de morte Trazem dor carregada de lágrimas.

É verde musgo nos dias de pouca sorte, fazem escorregar os incautos num torbilham de desgostos.

São amarelas as gotas nos dias em que apenas existem. Acompanham a parvoíce humana nos dias em que não desiste.

É vermelha a chuva quando cai do sol nos dias quentes de verão. Como o fogo, queima a pele ao suicidar-se no chão.

Azul é a água da chuva quando acaba o amor e a estupidez real abate, pesada, os amantes abandonados.

Nenhuma… Nenhuma é a cor da chuva quando, natural, brota da Natureza e percorre, normal, as direcções da empresa. A ode do mistério que desce do céu, em pressa, até à Natureza, abate-se sobre o homem e desaparece sem rasto e em beleza.


No Feminino


As mulheres.
Belas são as mulheres.
Perfeitas cativam os olhares.

O andar lento um bailado.
Contorcem o corpo,
Uma serpente.

Agitam a anca
Como uma bandeira.
Clamam a devoção de uma pátria
e a dedicação de uma religião.

Os cabelos,
Uma baía
entrada de uma praia,
Um convite para desembarcar
um perigo desconhecido.

São belas as mulheres.
Perfeitas.
Mexem os braços voluptuosos,
um depois do outro.
Ordenam os passos,
um à frente do outro.

Os olhos…
Os olhos esses são aniquilantes.
Penetram no corpo,
Dirigem-se ao coração
e lá alojam-se.
Rebentam-no.
Insubstituível,
seguem-na.

São belas as mulheres.
Alma perfeita.
Coração palpitante.
Completas.
Complexas.

São uma obra de arte,
admiram-se com satisfação,
desejam-se,
como o sol ou a lua,
são impossíveis de ter,
perceber,
conhecer.

São um mistério insondável,
um poço de magia,
surpreendentes,
cativam,
guiam ao abismo.

É a tentação,
o pecado da humanidade.

É o coração,
a vida de toda a universalidade.

Os dias



A vida passa-me ao lado como o vento. É uma aragem vazia que arrepia-me a pele. O sol entra-me nos olhos, passa pelo sangue e queima-me o coração.

Os dias são azuis. São iguais. Correm devagar entre os dedos e deixam marcas no meu rosto. Trazem o silêncio do deserto. Pousam quentes nas horas. Paira no ar as areias que assobiam ao tempo. Criam um muro miúdo que deixa passar os dias.

São sempre iguais. Quentes de calor, arrepiantes em sensaboria. Correm cansados, os dias. Molengões arrastam a noite.

Escura, empurra as estrelas. Rebola a lua e encosta a luz ao céu. Devagar, sem pressa, também as noites são iguais aos dias. Jura a noite trazer o dia e o dia, descontente, mostra-se.

Não estão em harmonia. Querem paz. Rezingões, passam.

São compridos, os dias. Colam-se a nós e repetem-se. São água fria, voo de águia sem direcção, onda de areia batendo no chão. Iguais, repetidos aborrecidos…

Amor

Sou brisa, sou pensamento. Sou um poço de emoções dentro do peito de uma mulher.
Voo com os pássaros diáfanos na branqueza do tecto do mundo. Desaguo minhas preces na margem de qualquer rio. Choro com a chuva que empurra-me correnteza abaixo. Abandono a pequenez do rio. Perco-me na imensidão do mar.

Sou amor.

Percorro o mundo do modo que posso. Seguro-me nas algas. Transbordo as fronteiras do mundo. Agarro-me à lua. Rebolo até ao calor de qualquer estrela. Encho o mundo de alegria e o universo de inveja desta nossa fantasia.

Sou fogo.

O mundo ecoa no vazio do Universo. Tantas janelas por onde espreitar, luzes translúcidas convidam-me a entrar. Escarnem de mim, expulsam-me. Fecho a aurora numa escuridão implacável. Regujitam insultos. Odeiam-me…

… São o som do amor..

O sol ao pôr-se
oferece a luz, no abismo,
saltam aqueles que pensam que reluzo!