PENSAMENTOS

segunda-feira, junho 19, 2006

100 anos de solidão

Sinto que tenho um 'Buendia' dentro de mim. Hoje sinto a solidão. É uma dor no peito que espreme as lágrimas dos olhos e liberta a mente num silencioso grito no escuro.
Sinto a solidão sentimento; sinto também a sua forma física. Ela arrasta o corpo; torna-o numa massa mole que escorrega pelo chão; é gelatinosa e cheira a frio.
Sopra-me o destino desgraçado dos 'Buendia'. A solidão alucina. Faz deslizar a vida num tropeção pelas avenidas errantes.
Um raio de energia espreita a solidão. 'Úrsula' espalhou a esperança e lançou sementes de vida.
O espírito acomodou-se. Já sabe o que custa a solidão, já conheceu o seu cheiro. A luz incomoda os olhos, faz gemer o coração.
Encosta-se a porta, aborrece-se a solidão e de novo oferecemos-lhe a mão.
Só, tenho vida! Olham como se estivesse morta, perdida dentro de mim. Sozinha sei que existo!... para o mundo sei que já cheguei ao fim.
http://diferencial.ist.utl.pt/edicao/24/cem.htm

Magia


Quando se faz a magia de abrir um livro, uma luz branca irradia das suas páginas. As palavras transformam-se em vozes e dão lábios às personagens. Na nossa mente acende-se uma tela pálida. Os lábios movimentam-se no silêncio e as palavras pintam as imagens que nascem dos livros.
O céu desenha-se azul; o sol ergue-se acordando as flores para o dia; os cavalos correm através das árvores que criaram a floresta; homens misteriosos saltam em cima dos animais; correm em direcção ao fim do livro.
Quando lá chegam e as páginas se acabam, apaga-se a luz, cala-se os lábios, fecha-se o livro; a tela fica pintada. Seremos seu autor, os únicos olhos, a única e todas as personagens da paisagem.
A magia fez-se! O livro de todos passa a ser só nosso!
http://www.bn.pt

Eugénio...!


Nesta noite de trovoada no início do verão, sinto a nostalgia da poesia. O som das palavras a encaixarem-se nas outras, como a chuva a encaixar-se no chão.
Lembro-me do Eugénio. 'Tu'! O poder do poeta faz-me sentir que é minha a sua poesia; e tão familiar as suas palavras. Tu Eugénio!
Um dia pediram-me que dissesse o que são as palavras, lembrei-me:

Palavras são como um cristal
algumas um punhal,
um incêncio.
Outras,
orvalho apenas. (E.A.)

Eu vi-te pela janela da tua sala. Como te compreendi quando olhei por ela! Quantos poemas terás escrito ao olhar o sol a afogar-se no azul do mar da foz; entre duas palmeiras e um céu luminoso? Ai! Como te entendi, ali no parapeito da tua janela.
Que imagem poética, que vida sofrida, porque um poeta sofre com a beleza do mundo, mesmo sendo um fingidor.
De que cartola roubaste as tuas palavras? Com que varinha ordenaste os poemas? Com que sentimentos pulvilhaste a tua poesia? Só tu Eugénio, com essa magia, com essas palavras que:

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam: barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
tecidas são de luz
e são a noite.
Emesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras? (E.A.)

Como me entendes, Eugénio! Quando leio a sinceridade das tuas palavras sinto o conforto de um lar e o aperto no peito do poeta fingidor.
Como gostava de te ter conhecido! Quando eras gente agoniava-me que te tornasses em alma; agora que és alma, agonia-me que te transformes em esquecimento.
Não digo 'Adeus', Eugénio. Digo 'Até sempre'!
http://www.astormentas.com/andrade.htm

A Vida Cansa!


O que escrever?
O impulso de soltar as letras
nas nuvens do caderno
já se torna hábito.

Hoje sinto a sensibilidade.
Ela toca-me em tudo o que vejo.
Não sei o que me quer, mas
solta em mim a dor da escrita.

Doí-me a vida!
Solto um desabafo,
não sei que diga.

Há dias em que também a vida
se sente cansada!
Levo-a à praia,
vejo a areia e
o sol ao canto do mar, mas
doí-me a vida.
Não é o calor que me vai animar.

Hoje sinto a sensibilidade!
Finto-a para que
não me canse a vida.
Fujo na percurssão de uma bateria, mas
doí-me a vida,
não tenho forças!
volto na melancolia de um violino.
Doí-me a vida.

Hoje sinto a sensibilidade!
Veio-me buscar à solidão
do meu quarto.
Tento espanta-la.
Afasto as cortinas,
abro as janelas,
deixo entrar a luz.
Refresco o rosto com a aragem, mas
doí-me a alma.

Volto à tristeza do quarto,
é melhor ignorá-la.
Mesmo assim,
não deixo de amá-la,
a Ela,
à vida cansada e
à sensibilidade desalmada!

http://www.margaridacepeda.com/index_flash.html